Quando eu saio na rua, de saia ou de shortinho, apenas para sentir o carinho do vento na minha pele, dizem que estou cruzando a linha ou que estou dando permissão para ser agredida.
Quando eu decido amar estrias, celulites e qualquer outra marca minha, sempre me jogam a beleza que está estampada na capa da revista, na tevê e no Instagram, sempre inacessível.
O que é que tem no nosso corpo que faz dele nunca ser, de fato, nosso?
Quando estou ganhando meu pão em que parte do contrato está escrito que posso ser apalpada, caçada e subestimada? Em que parte diz que preciso ficar calada?
Quando estou lutando pelo meu lugar ao sol, em que parte do contrato está escrito que sou apenas uma cota, que este não é um lugar para mim? Que devo ser uma megera mal amada?
O que é que tem nas nossas carreiras que faz delas nunca serem respeitadas?
Quando sou aberta sobre tocar todas as partes do meu e outros corpos, já logo dizem que não posso estar em um altar.
Quando esse tipo de papo já não me atraí, já logo dizem que para titia vou ficar.
O que é que tem no nosso sexo que faz ditar sobre com quem posso me relacionar?
Quando gosto de ser princesinha, de usar rosinha, andar por aí toda ajritadinha, nem desconfiam que tenho algo precioso dentro da minha cabeça.
Quando meu sonho é ser como a Marta ou não sei ser frágil e delicada, me questionam se mulher, de verdade, posso ser.
O que é que tem nos nossos gostos e aparências que não podemos ser mais que duas?
Podemos e somos mais de duas, todos os dias e a cada hora.
Na caixinha em que se escreve "mulher" cabe ser tudo, desde que sejamos só nós mesmas.
Comentários
Postar um comentário